O Novo Testamento: sua origem e análise, Merrill C. Tenney - RESENHA
RESENHA
Livro: O Novo Testamento: sua origem e análise, Merrill C. Tenney; | Tradução: Antônio Fernandes — 3. ed.- São Paulo: Vida Nova, 1995.
O Novo Testamento: sua origem e análise, é uma obra de extrema utilidade para uma compreensão panorâmica e introdutória do Novo Testamento. O autor, Merrill C. Tenney, segundo o site da Editora Vida Nova, foi um “mestre do Novo Testamento e escritor mundialmente conhecido, foi durante muitos anos Deão da Wheaton Graduate School, nos EUA. Concluiu o mestrado e o doutorado na Harvard University. Exerceu brilhantemente o mestrado em disciplinas como Novo Testamento, Grego e Teologia, por muitos anos atraindo estudiosos de todos os cantos do mundo.”
O autor nos apresenta um panorama simples, mas tocando os pontos fundamentais dos estudos no Novo testamento, entendo-o como a apresentação da aliança de Deus, seu pacto, sua promessa, no entanto, mais que uma simples Promessa, visto que “uma promessa obriga somente a pessoa que a fez, enquanto que um pacto obriga igualmente ambas as partes que nele entram.” (pág. 21). Assim, “o Novo Testamento é, portanto, o livro onde está registrado o estabelecimento e o caráter das novas negociações de Deus com os homens por meio de Cristo. Deus põe as condições, que o homem pode aceitar ou rejeitar, mas nunca alterar, e, quando este as aceita, tanto ele como Deus, ficam obrigados a cumprir as suas exigências.” (pág. 21).
O Novo Testamento é a revelação deste novo pacto, que é apresentado por meio das palavras e das ações de Jesus Cristo e dos Seus seguidores; e o autor do presente livro, trata particularmente desse material, desde os sinópticos, que esboçam, de diferentes pontos de vista, a vida e obra de Jesus, passando pelas Epístolas, que eram completamente informais (com a única exceção de Romanos) ao “tomar contato e ao tratar das emergências correntes nos grupos a que eram dirigidas.” (pág. 22), até o Apocalipse, “o último livro do Novo Testamento, profético. Este trata tanto do futuro como do presente. Por causa do seu estilo altamente simbólico, que envolve visões e revelações sobrenaturais, também é classificado como literatura apocalíptica.” (pág. 23)
Um grande fator contextual para o entendimento de muitos dos livros do Novo Testamento é a existência de perseguições, tanto imperiais quanto judaicas, contra a igreja, bem como o perigo sempre perto da apostasia espiritual. Segundo o autor, “a ameaça da perseguição também é referida em Hebreus, na 1ª de Pedro e no Apocalipse. As Epístolas Pastorais mostram que, precisamente ao terminar da carreira de Paulo, muitas destas questões eram correntes e que algumas das igrejas já tinham sido afetadas por um declínio da vida espiritual” (Pág. 25).
Dessa forma, fica evidente a importância do estudo contextual dos livros neotestamentários. Apesar de não ser sua ênfase, “em numerosos lugares, o Novo Testamento relaciona-se com o ambiente político do primeiro século e a sua importância histórica deve ser interpretada de acordo com essa relação.” (Pág. 41). Assim, torna-se extremamente necessário entender a o contexto político, geográfico e teológico daquele período, no caso o Império Romano e a cultura greco-romana. E o presente livro é um material extremamente útil para satisfazer essa necessidade. Por exemplo, “Jesus aludia aos Selêucidas e Ptolomeus quando disse que os reis dos gentios se chamam a si próprios “benfeitores” (Lc 22:25), porque a palavra grega euergetes (benfeitor) era um dos seus títulos.” (Pág. 49).
Importante também destacarmos a importância dos idiomas principais, visto que “O uso concomitante das [principais] línguas (Hebraico, Latim, Aramaico, Grego) no centro onde o Cristianismo teve a sua origem, trazia em si a influência da civilização e da literatura representada por essas línguas e proporcionou ao Cristianismo um meio de expressão universal.” (pág. 84)
O livro nos dá uma visão ampla e introdutória de eventos que marcaram o clima contextual do Novo Testamento: Imperadores Romanos, geopolítica local, Herodes, revoltas e revoluções: Tudo contribuindo para que, ao lermos o texto bíblico, nos situamos no pensamento da época.
A respeito do contexto religioso no qual o cristianismo surgiu, Tenney diz que “o Cristianismo não começou a sua implantação num vácuo religioso, em que encontrasse os homens em branco, à espera de alguma coisa em que acreditar. Pelo contrário, a nova fé em Cristo teve de lutar, para abrir o seu caminho, contra crenças religiosas enraizadas que vigoravam havia séculos.” (pág. 95). Assim, cita o Animismo, o Panteão Greco-Romano, o culto do Imperador, as religiões de Mistérios, as várias filosofias e o judaísmo, como pensamentos que formavam o clima intelectual ao tempo do surgimento do cristianismo; assim, "não havia padrão inerente no paganismo que reprimiu o impulso da queda moral. [...] em vista do caráter imoral e sem escrúpulos de muitos imperadores e altos funcionários, não é surpreendente que a sociedade em geral estivesse cheia de toda a espécie de males. O horrível quadro do mundo pagão que temos em Romanos 1:18 a 32, não é nenhum exagero.” (Pág. 80)
Então, falar do movimento cristão em suas origens, leva-nos diretamente ao Novo Testamento onde vemos que tal Caminho, como era chamado, teve a sua existência ligado à pessoa e obra de Jesus Cristo, seu Fundador e Seu Chefe. Sua vida está contida somente nos quatro Evangelhos, o de Marcos e o de Mateus, o de Lucas e o de João, que desde “o mais primitivo período da sua história são considerados canônicos pela cristandade. Embora tivesse havido muitos outros evangelhos que pretendiam narrar fatos da Sua vida que não estão registrados nos famosos quatro, esses evangelhos apócrifos são geralmente de data tardia e não merecem confiança.” (Pág. 147).
Sobre a veracidade dos livros neotestamentários, muito contestado pelos inimigos da fé, a presente obra nos apresenta uma defesa bem fundamentada de sua inspiração e inerrância. O autor é enfático ao afirmar que esses textos não são mera “agregação de dados fragmentários e de histórias feitas ao acaso, mas é definitivamente organizado para mostrar como o Messias cumpriu a chamada que O trouxe ao mundo.” (pág. 154), também, “quer na base da evidência interna, quer na da externa, estas obras mantêm-se indubitavelmente por si próprias na sua classe.” (Pág. 148)
Sobre a igreja primitiva, bem como sua pregação, “As partes fundamentais dessa pregação eram a necessidade de crer no Messias ressuscitado, o arrependimento individual e nacional e a recepção do Espírito Santo. Esta mensagem era acompanhada de doutrinação, de sorte que na proporção em que aumentava o número de crentes, mais estes ficavam unidos pelo conhecimento comum e pela ação comum" (Pág. 246).
É muito interessante, também, como o autor percebe tanto as diferenças de ênfases teológicas quanto as concordâncias entre Paulo e Tiago. Segundo o autor, "a sua [Tiago] epístola foi escrita para promover uma vida ética prática, assim como Paulo escreveu as aplicações práticas das suas epístolas pelo mesmo motivo." (Pág. 273)
Tratando do programa paulino de evangelização, o Dr. Tenney nos faz perceber como, após a evangelização, o apóstolo tinha o costume de voltar para consolidar e instruir os conversos. A tese de Paulo nesse quesito era: as igrejas originadas pelo nosso trabalho precisam de alimentos e cuidados, físicos e espirituais, para progredirem na vida cristã. Em tudo isso vemos o interesse de Paulo pelo crescimento sadio do reino de Deus, bem como a soberania de Deus no crescimento de Sua obra. Em Trôade, como exemplo, deram-se dois acontecimentos importantes: o apóstolo teve uma visão noturna de um macedônio que lhe rogava: “Passa à Macedônia e ajuda-nos!” (At 16:9), Paulo aceita o chamado. Uma decisão que afetou todo o curso da história do cristianismo: se Paulo tivesse seguido para leste, hoje o mundo ocidental receberia missionários evangélicos do oriente, e não o contrário.
Sobre a autenticidade bem como a existência de uma “regra de fé” da esteira dos Doze apóstolos de Cristo, a qual Paulo seguia fielmente, vemos que as cartas escritas aos tessalonicenses “figuram entre os mais antigos escritos de Paulo e testificam que a mensagem que Paulo pregava não era novidade, mas que constituía já havia certo tempo um corpo definido de fé” (pág. 297). O autor segue dizendo que “para Paulo, “tradição” não significava um boato descuidadamente transmitido e de autenticidade duvidosa, significava antes um conjunto de doutrinas que, embora orais, foram cuidadosamente preservadas e formuladas com exatidão.” (pág. 297). Assim, confirma-se o que o Apóstolo sempre e ferozmente defendeu: sua genuína autoridade apostólica, tão constantemente rebatida.
O livro encerra com uma descrição histórico-teológica da Igreja, isto é, seus aspectos institucionais já evidentes, sua ruptura com o judaísmo (daí advindo as perseguições de procedência judaica), o surgimento de diversos falsos ensinos, bem como a devida resposta aos mesmos e, por fim, a natureza Vencedora da Igreja face às perseguições advindas do Império, o que resultou em uma melhor descrição da expectativa cristã (apocalipse), bem como a certeza da vitória presente e futura da igreja de Cristo.
Recomendamos a presente obra por seu caráter panorâmico, no entanto, mais ainda por didaticamente o autor tratar de problemas concernentes à autoria, data e problemas teológicos, dando prováveis solução, sem, todavia, perder a clareza no entendimento. Professores de EBD, seminaristas, pastores e demais irmãos em Cristo, terão, nessa obra, um grande auxílio em seus estudos bíblicos.
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