Os inimigos da fé - Resenha do Livro “O cristianismo através dos séculos” de Earle E. Cairns, Capítulo 39

 Os inimigos da fé

Resenha do Livro “O cristianismo através dos séculos” de Earle E. Cairns, Capítulo 39 

 

 

Leandro Monte Alves

Acadêmico de Teologia

Escola teológica Charles Spurgeon

 

No capítulo 39 de seu livro “O cristianismo através dos séculos”, Earle E. Cairns nos apresenta, dentro do contexto histórico do Iluminismo, quatro inimigos da fé cristã, inimigos esses ainda existentes e atuantes em nossos dias. O citado autor atuou por mais de trinta e cinco anos como professor de história, hoje, membro da Academia Americana de História da Igreja, da Associação Americana de História e da Conferência sobre Fé e História, com sua vasta experiência, nos mostra os antecedentes históricos e as influencias hodiernas desses “perigosos” inimigos do cristianismo.

Como consequência do Racionalismo, do individualismo e do Humanismo da Renascença, surge primeiramente a Crítica Bíblica, influenciada, sobretudo pela filosofia idealista alemã, elaborada por Immanuel Kant, segundo o qual, as estruturas do pensamento se encontram na própria mente, de forma que o homem não possui condições de conhecer o mundo da Realidade, o mundo das “Noumena”, o mundo como de fato esse é. Segundo Cairns “a crítica bíblica visa destruir a natureza sobrenatural da bíblia como revelação” (Cairns, 2019).

Outro forte influenciador da Crítica Bíblica foi Friedrich Scheiermacher, para quem o cristianismo era apenas uma forte apreensão subjetiva de Cristo, o qual possibilitava ao homem a comunicação com o Absoluto. Excluía-se, assim, a necessidade de uma revelação histórica e objetiva como critério sine qua non. Para Scheiermacher “a religião não se baseia na Razão (pura ou prática – de acordo com as divisões kantianas), mas no Afeto/Gefühl – em alemão”. (Gonzáles, 2018)

O estudo crítico da bíblia pode ser dividido em duas vertentes: Alta crítica (ou crítica histórico-literária) e Baixa Crítica (ou crítica textual), aquela busca reconstruir o ambiente histórico, cultural e literário no qual o texto bíblico foi originado, enquanto esta tenta determinar, por meio do estudo dos manuscritos preservados, se o texto que temos é aquele que saiu das mãos do autor. De Acordo com Cairns, “é a alta crítica que tem destruído a confiança de muitas pessoas na Revelação divina da bíblia” (Cairns, 2019), podemos, dessa forma, dividir a crítica bíblica em crítica bíblica positiva, o que incluiria o que há de melhor na alta crítica e toda a baixa crítica, e crítica bíblica negativa, o que incluiria a parte da na alta crítica embasada em pressupostos naturalista, ateísta e materialista.

Diante desse constante ataque por parte da crítica bíblica negativa, houve uma divisão entre os eruditos bíblicos: Aqueles que criam na Revelação e os que a desacreditam, assim “o efeito causado foi o enfraquecimento do conceito de Revelação Sobrenatural, assim com o questionamento da relevância dos escritos sagrados como relevantes à fé” (McGrath, 2005).

Outro inimigo da fé apresentado por Cairns foi o Materialismo, definido como “a prática de salientar os valores materiais” (Cairns, 2019). Nessa ideologia há a tendência de superestimar os padrões elevados  da vida física em detrimento dos bens espirituais. O autor elenca a Revolução industrial com suas possíveis melhoras de vida, como o principal evento que impulsionou tal mentalidade. Ainda presente, o materialismo foi o desvirtuador da atenção cristã daquilo que realmente importa.

Em terceiro lugar, o autor apresenta o Evolucionismo de Charles Darwin (1809 – 1882). Após análise da vida animal e da situação dos fósseis, Darwin não conseguia ver outra explicação que não a Evolução Biológica a partir de um ancestral comum; para ele, a sobrevivência, extinção e a evolução só são determinadas por uma luta na qual vence o mais adaptável.

O prejuízo de uma visão como essa na teologia, aparece quando teólogos posteriores aplicam tais princípios no entendimento bíblico e na interpretação textual. Deus e a Bíblia são produtos de seu contexto e mudam na medida em que tudo ao seu redor muda. Na antropologia, o homem é apenas fruto da seleção natural, excluindo-se a noção de Queda e Depravação Total. Na escatologia, o pós-milenismo é asseverado, pois todo o Cosmos está em evolução para o melhor.

Por fim, somos apresentamos ao Comunismo, grande opositor e que “se levanta contra tudo que se chama Deus”.  Essa filosofia tem seus fundamentos no pensamento Materialista de Karl Marx, para quem a realidade era apenas Matéria em Movimento. Toda forma de governo ou instituição é determinada e desenvolvida por um permanente conflito de classes. Influenciado por Darwin, acreditava que toda a História caminha para “a grande revolução proletária, uma sociedade sem classes” (Gonzáles, 2018). A religião seria apenas um “sol imaginário”, resultado da situação socioeconômica, fruto dos anseios de uma sociedade oprimida. Caso essa situação não existisse, a humanidade não teria “fabricado a Deus”. A religião é apenas o “ópio do Povo” que amortece as pessoas para sua real necessidade.

Concluímos fixando um axioma: ao negarmos a autoridade da revelação especial – as sagradas escrituras, como fizeram os da Crítica Bíblica, não teremos outro destino que não a total negação de Deus. Quando suprimimos sua verdade revelada, por fim nos pegaremos afirmando tolices e asneiras que ultrapassam a blasfêmia. "A neo-ortodoxia, o evangelicalismo e as seitas parecem ter surgido para suprir a necessidade de uma mensagem religiosa com autoridade. De alguma forma, tais movimentos são tentativas para preencher o vazio espiritual criado pela bancarrota teológica do liberalismo, com a sua vaga mensagem de paternidade de Deus e da fraternidade humana. O liberalismo ensinou a moralidade, mas negligenciou o dinamismo religioso da Cruz, a única coisa que pode energizar uma vida que tenta se conformar à ética Cristã".

 

 

Obras Citadas

Cairns, E. E. (2019). O Cristianismo através dos séculos. Uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova.

Gonzáles, J. L. (2018). História ilustrada do Cristianismo. São Paulo: Vida Nova.

McGrath, A. E. (2005). Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a teologia cristã. São Paulo: SHEDD.

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